Eye Candy - Capítulo 04


Kazuki olhou o relógio: 18 horas. Sabia que iria levar uma bronca da mãe, por não avisar pra onde foi, nem o que havia feito durante a tarde. Olhou para o céu nublado, que já começava a cair pequenos flocos de uma fina neve, e um vento gélido bateu no seu rosto, e ele sentiu um ligeiro arrepio de frio. Cruzou os braços e ficou pensando no que dizer para a Michiyo na próxima vez que a visse. Começou a relembrar do que havia acontecido.
" - Kazuki Meihiro, posso saber o que faz aqui?" - disse uma voz por trás dos meninos, que estavam sentados no chão atrás das caixas velhas de papelão.
Naquele momento Kazuki sentiu seu corpo adormecer e sua lingua travar entre  os dentes, sabia que estava encrencado por ter visto demais e ficou imaginando um milhão de coisas para dizer, uma desculpa qualquer pra se safar dali sem se envolver com os problemas da garota. Mas teve várias idéias do que dizer, e as palavras acabaram se amontoando em sua garganta, e nao saiu nenhuma.
" - M-Michiyo, a gente t-ta-va observan-do ali, e t-t-tinha uns caras te seguin-do, m-mas parece que v-voca já deu um jeito neles, né, HAHAHAHAHAHA" - Zack começou a rir nervosamente, passando a mão nos cabelos.
Michiyo semicerrou os olhos, com desconfiança, e olhou para Zack com olhos profundos, como se tivesse esquadrinhando sua mente. Kazuki viu o que a menina estava prestes a fazer, e ligando fatos do que ele tinha visto, e supondo que a menina ia fazer algo estranho com seu amigo, rapidamente raciocinou e puxou Zack pelo braço, quando ela já estava com as mãos no rosto dele, e se levantando bruscamente, saiu correndo do beco quase atropelando-a. Depois de ter corrido 2 quarteirões, Zack parou, ofegante, e disse:
- Cara, o que foi aquilo, achei que ia ganhar um beijo...
- Você é muito tarado e ingênuo, Zack. Tem algo muito errado com essa garota.
- Ah qual é. Só por que ela gostou de mim...
- Ai, seu retardado! Acorda pra vida, você viu e ouviu muito bem o que aconteceu no terreno atrás da loja, aquelas coisas não podem ser normais. Essa garota ta escondendo alguma coisa, e agora eu fiquei curioso, mas ja que ela nos descobriu, não sei o que fazer pra investigá-la.
- Hum. Esquece ela man. E tipo, ela estuda na mesma sala que você, tens quatro horas por dia pra olhar pra ela.
- E você acha mesmo que ela vai agir estranhamente na escola?
- É, acho que não. Ah Kazuki-kun, eu nao tenho cabeça pra dar uma de detetive. Você já tá falando dessa garota a mais de dois meses, vá logo se declarar...
- Já disse que não gosto dela.
- Então esquece ela. Ela deve ser da mafia, sei la.
- Faça-me rir. O que uma garota inglesa da mafia estaria fazendo no Japão?
- A mafia é bem grande, não? - perguntou Zack, fazendo cara de inocente.
- Tenso cara, pare de ver Reborn.
- Eu vou é pra casa. Até amanhã, tenho altas coisas pra fazer, meu H.I.R.O. ta me esperando e não tenho tempo pra bobagens. - disse Zack, virando as costas e indo embora.

Quando chegou na avenida, o garoto percebeu que estava sendo seguido. Apertou o passo para tentar escapar do perseguidor desconhecido, ele estava com tanto medo que nem sequer olhou pra trás. Parou em uma esquina cujo sinal de trânsito estava fechado, e torcendo para que este abrisse logo, deu uma espiada atrás para ver quem o estava seguindo.
E se deparou com ninguém menos que a admiradora não tão secreta de Kazuki, que estava com um cachecol e botas rosas de frio, e andava depressa em direção ao Zack. Ele, ao perceber quem era,  começou  a rir de si mesmo pela idiotice que acabara de fazer.
"Não acredito que eu tava com medo dessa vadia... Na boa, eu sou muito retardado..."
Lily se colocou do lado de Zack, também esperando o sinal abrir.
- Ei, essas suas roupas parecem estar bem quentes, não é mesmo?
- Mas ein? - disse Zack, pensando em como ela era descarada.
- Estou falando, você não parece estar com frio, numa neve dessas. Estava correndo de alguém?
"Nossa, ela é observadora. Quem diria que uma garota desse tipo tivesse cérebro" pensou ele, tentando arrumar uma desculpa por estar todo suado em plenos 13 graus de temperatura ambiente.
- Pra que você quer saber? Não é da sua conta.
Lily olhou para o chão e deu um sorriso de canto dos labios cheios de hidratante.
- Fico me perguntando por que você e o Kazu-chan são assim comigo. Qualquer garota oferecida que vier falar com vocês, vocês dão corda, conversam. Por que comigo é diferente?
- Então está admitindo que é uma oferecida?
O sinal abriu e Zack atravessou, deixando a garota para trás. Lily correu e o alcançou, retrucando:
- Se você acha. Posso apenas te perguntar uma coisa?
- Já perguntou... - disse Zack, rindo da cara da garota, que o olhou de lado e fez bico.
- É sério... - disse ela, corando.
- Não estou disponível, se for me chamar pra sair. Nada contra você, mas é que eu estou mui-
- Eu só tenho olhos pro Kazu-chan. Quem é o oferecido agora? - disse ela, piscando e mostrando a lingua para Zack.
- Tch, diz logo o que é. E à proposito, por que está indo na mesma direção que eu?
- Vou retomar meu caminho quando tiver minhas informações...
Quando ele ouviu isso, se lembrou dos caras de capa preta falando sobre entregar informações e da Michiyo dando uma surra neles, e sentiu um arrepio na hora , mas não disse nada.
- Ei, por que você e o Kazu-chan estavam vigiando a Mei-san depois da escola? - perguntou ela, olhando nos olhos do menino. Zack desviou o olhar para o outro lado da avenida.
- Por que... Por que...érr... - Ele não sabia o que dizer. Não acreditava que estava sendo intimidado tão facilmente por uma garota. Maldita fraqueza.
- Por acaso você ou ele estão... A fim dela? - continuou Lily, cruzando os braços.
- Ahhhh. Isso não é da sua conta. Você veio até mim apenas para isso? Tá de brincadeira.
- É que... Eu... Gosto mesmo do Kazuki.
- Aham, dele e de todos os outros.  E se ele estiver a fim dela mesmo? Não é da sua conta, mesmo porque, se ele estivesse sozinho, você não teria chance. Ele realmente te odeia. Me ouça, conselho de amigo. Até mais.
E saiu, deixando a garota com seus pensamentos aleatórios.
- Conselho... De... Amigo... Amigo? - e saiu correndo na direção contrária.

_____________________________________________________
Michiyo tirou o relógio de holograma de dentro do bolso no mesmo beco escuro de sempre, pois por causa dos acontecimentos do dia ela não tinha tido tempo de ir para casa.
- Código 45B56.
- Boa noite, N° 3. O que deseja? - disse a voz do programa que saía do holograma azul.
- Quero saber por que o meu Amnivoid não chegou até agora. E tenho uma notícia para o Ji... Para o N° 9.
- Sim, senhorita! Vou passar para o responsável agora mesmo.
Houve uma pausa, um clique, outro clique e depois uma voz.
- EAIIIIIII!! - disse Jin, todo animado - gostei de ver hoje ein, hehe.
- N° 9. É uma emergência. Naquele incidente houveram duas testemunhas, e entre elas, um dos meus alvos. Precisamos fazer aquilo.
- Ahhh. Tá falando sério? Você foi descuidada... Mas por que quer usar aquilo?
- Eu não acho que com apenas um Amni eles vão esquecer de tudo.
- Ok então. Você vem pra base ou pra sua casa mesmo?
- Vou para a minha casa primeiro, tomar um banho. Tenho que terminar isso hoje ainda, mande o ponto guia até lá para eu buscar o que eu preciso na base.
- Entendido. Até mais.

_____________________________________________________

Quando Kazuki chegou em casa, percebeu que a porta estava trancada, e ele teve que tirar a chave de dentro da mochila para abri-la, e de repente teve um mal pressentimento do que estava por vir. Mas, como sempre, falou para si mesmo que estava tudo bem, e que era coisa da sua cabeça, e que tudo continuaria normal. Colocou a cópia da chave na fechadura e girou uma vez. Antes de continuar a girar, fez uma pausa e olhou de canto para a sombra de uma arvore que ficava em frente a casa dele. Balançou a cabeça e terminou de abrir a porta, entrando e a trancando por dentro. Acendeu apenas a luz do corredor, e foi para a cozinha, onde havia um bilhete de sua mãe, avisando que ela havia ido para uma reunião de mulheres do bairro. Kazuki saiu da cozinha e subiu para o quarto, deixando sua mochila em um pequeno gancho que tinha na parede. Pegou umas roupas e foi para o banheiro, tomar um banho quente na banheira. Enquanto se esquentava na água de ótima temperatura, ele tentou se esquecer dos fatos que haviam acontecido naquele dia e pensar em outra coisa que não fosse nada relacionado à escola. Como havia andado demais, estava cansado, e quase dormiu dentro da banheira, mas logo se levantou e saiu depressa do banheiro, indo em direção ao quarto, quando se lembrou que havia esquecido a luz do corredor do andar de baixo ligada. Desceu as escadas com uma toalha na cabeça, e ainda sentindo o vapor quente que saía do banheiro, foi andando em direção ao interruptor para apagar a luz. Quando olhou para a sala, quase morreu do coração. Havia uma pessoa com uma capa branca de cabeça baixa na sala, não dava pra saber se era homem ou mulher, e que ao perceber que tinha sido descoberto, tirou algo escuro de dentro da roupa e apontou para Kazuki. O garoto não teve tempo de reagir, e caiu no chão da sala, desacordado.
- Me desculpe, Kazuki-kun.

Nenhum comentário:

Postar um comentário