Eye Candy - Capítulo 02




2.
Ao chegar em casa, Kazuki teve que ouvir um belo sermão de sua mãe, sobre “você tem que parar de ficar jogando e estudar”, “você precisa estudar” , “você precisa fazer amigos”, “você precisa estudar” e outras coisas desse gênero.
- Mãe, tava falando sério quando disse que estou sem PC?
- Claro que estava, Kazu-chan – disse a mãe dele, com voz doce – isso é para o seu bem meu filho. Não estou gostando de seu desempenho na escola, realmente está me preocupando ver você indo de mal a pior nos estudos...
- Mas, mãe... A senhora havia me dito que se eu não passasse, eu apenas não poderia ir visitar os meus amigos.
- Mas como sou sua mãe e percebo o que você faz, percebi que você está pouco se lixando para seus amigos. Por isso não faria diferença você ficar ou não de castigo e não poder ir pra casa deles.
- Mas que droga, a senhora poderia ter me avisado antes, eu estudaria... – disse Kazuki, enrolando o dedo nos cabelos pretos e lisos.
- Engraçadinho. Vai comer alguma coisa e ver TV comigo.
- Vai achando que vou ver TV... – disse Kazuki, fazendo cara feia.
Passou na cozinha e fez um sanduiche, apesar de ter comido numa lanchonete, quando ele estava entediado ele gostava de comer para passar o tempo. Eram duas da tarde quando ele foi tomar um banho e foi para o seu quarto, e percebeu que a sua mгe já havia tirado o cabo de força do computador e desligado o Nintendo Wii U dele.
- Mas que droga, ela estava falando sério. – disse ele, mastigando um pedaço de pão.
Caminhou até a cama e tirou a gravata de uniforme e os sapatos. Deitou-se com o antebraço apoiado na testa,  ficou olhando para o ventilador de teto com um olhar vazio e pensando na vida. Pensando na viagem que ele poderia ter feito, na prova que ele poderia ter estudado mais , em sua família... De repente se lembrou de acontecimentos do passado que marcaram a sua vida.
- Mana, onde está você agora? Faz tempo que não vem ver a gente. Apesar de que eu nunca gostei quando você vinha pra cá, ficava se metendo na minha vida... Yukito e Shio, meus amigos que estão longe agora, vocês eram os únicos que me aceitavam como eu sou... o Zack não curte jogos, só aquelas geringonças que ele faz... deve estar todo sujo de graxa e suado agoa. Eca, é muito  melhor ficar jogando, você fica mais estratégico. Que seja, bateu um sono agora...
E adormeceu.
E o garoto teve um sonho.

Ele estava caído numa floresta enegrecida pela sombra das árvores no chão, iluminada pelo pôr do sol amarelo ouro, as folhas dançando ao seu redor com um vento suave e fraco. vários coelhos passavam ao largo, correndo de algum predador.
- Mas o que... onde eu estou!?
 Olhou ao redor e só viu aquela natureza exuberante o cercando, incondicionalmente.
 - UAU, como isso parece as paisagens dos RPG's que eu jogo... até parece que eu estou dentro de um de um desses... - pensou ele, sorrindo e com os olhos brilhando.
Continuou andando por ali, distraído e observando a diversidade das plantas e animais que haviam no local, e admirando o quanto os felinos que ali se encontravam nao se importavam com a sua presença em seu habitat. Ao tirar uma grande folha de sua frente,   se deparou com uma vista mais linda ainda: um rio, de águas azuis como o vestido da garota estranha que ele havia visto na rua, e iluminada pelos raios o sol poente que desaparecia no horizonte.
De repente, no centro do b elo rio, começou a surgir um redemoinho pequeno, que fazia girar as vitória-régias que boiavam no rio, e foi crescendo gradativamente até virar uma grande massa de água, que engolia tudo ao redor. E ao longe, Kazuki podia ouvir um sussuro surgindo em meio аquela confusão.
- Venha, venha, venha... Precisamos de você... Kazuki Meihiro.
Kazuki revirava os olhos procurando saber de onde vinha aquela voz sussurante ao seu ouvido, mas quanto mais olhava, só via o redemoinho que subia o rio acima molhando o seu caminho e espirrando água em tudo.
De repente começou a aparecer olhos de pupila azulada, olhando e piscando para ele, e ele continuava a ouvir aquele sussurro perturbador, chamando por ele insistentemente. mais um tempo passou nessas condições e ele começou a sentir um formigamento em seus pés, e ao olhar para frente, viu um homem alto, de cabelos lisos e negros, com as mãos estendidas para ele, dizendo:
- Kazuki, responda a quem te chama, você foi escolhido...
- MASOQUE - pensou Kazuki, já não entendendo mais nada.
Começou a correr dali, a floresta exuberante parecia mais perigosa do que bonita, ele queria sair dali de qualquer jeito.
- Vamos, quero sair daqui, minha voz está sumindo, mas que droga é essa!
Começou a ver tudo dobrado, como se estivesse bêbado, e o chão começou a sumir, e...
Num pulo, Kazuki acorda assustado, e percebe que está todo suado e ofegante.
O ventilador por algum motivo estava desligado, e a porta estava entreaberta, e ele concluiu que sua mãe havia entrado e desligado em alguma hora enquanto ele estava dormindo. Sentou- se na cama vagarosamente, sentindo sua cabeça doer, e sentindo seus olhos ficando irritados por causa da luz do sol que entrava pela sua janela aberta e com as cortinas esvoaçando suavemente com a brisa de fim de tarde.
- Mas o que foi isso, parecia tão real.

Kazuki calça seu sapato e olha no relógio: 18:30hrs.
- Ah ta de sacanagem. Vou me atrasar até pra ir pra casa do Zack?
Levantou da cama esfregando os olhos e pensando quem diabos seria o homem alto de cabelos negros e lisos que vira no sonho, falando coisas estranhas e aparentemente sem sentido.
- Ahh, é aquele jogo de suspense e terror. Não sei se é uma boa idéia continuar jogando aquilo... - pensou ele. - e aquela garota cabulosa? Credo, nem em sonhos ela me deixa em paz - sorriu Kazuki, se olhando no espelho e observando uma pequena mancha que ele tinha abaixo do olho direito.
- Ah que se dane. Não vou correr pra ir pra casa do Zack. Ele que me espere, oras.
Kazuki desceu as escadas de sua casa, coçando o braco e bocejando.
- Ahhhh acordou, belo adormecido? - disse a mãe do garoto.
- Boa noite... Tive um sonho estranho nesse cochilo de 4 horas...
- É? Sonhou que estava passando de ano? Por que isso sim é estranho pra você HAHAHAHAHA - e ela começou a rir escandalosamente.
- Aff. Bebeu de novo né mãe.
- Que isso filllio hahahaha sua mãe - rick - está muito - rick - bem... Hahahahahaha
Kazuki olhou para ela com pena, pegou um pano de prato em cima da pia da cozinha e limpou uma parte do sofá onde a mãe estava sentada.
- Ahhhh Kazu-chan, ta limpinho hehehe, você é um bom menino muito bom menino hahahaha, tenho orgulho de você, hahahaha.
- Tem certeza de que pode ficar sozinha em casa? Estou saindo agora.
- Ahh claro, vou para - rick - meu quarto e dormir, e pensar - rick - na vida.
Nesse momento, ela se levantou, cambaleando, foi para o quarto e trancou a porta por dentro, e começou a resmungar algo do tipo "porque você não voltou" e "estou aqui te esperando hahahahahaha".
- Fique bem, mãe... - disse Kazuki, baixinho.
Pegou sua jaqueta vermelha, trocou de sapatos, e foi em direçao à porta, para ir até a casa do Zack. De repente o celular começa a vibrar no seu bolso.
Era numero desconhecido. "Quem será..." pensou Kazuki.
- Sim...?
- Ka-zu-ki - disse pausadamente uma voz doce e melosa.
- Ah não acredito. Quem te deu meu numero?
- Owwwnt. Não fala assim comigo, me deixa magoada... - era a tão odiada e oferecida Lily, da qual o garoto tinha profunda aversão.
- O que você quer? Estou ocupado agora.
- Ah para, eu sei que não está. Aposto que está de castigo em casa, no quarto, sozinho e passando frio, uuui.
- Isso não é da sua conta. Fala logo o que você quer, que eu vou desligar.
- Nossa, por que você é tão chato comigo? Eu gosto tanto de você, Meihiro-kun...
- Você tem 2 minutos.
- Aff. Você é muito chato e dificil. Da próxima vez que esquecer alguma coisa no colégio nao vou te ligar para avisar. Vou deixar te roubarem e você vai ver o que é bom. Rum.
- ...
- Por que o silêncio? - disse a garota com voz sumida.
- Estou esperando você terminar.
- Ahhh sim, Meihiro-kun... Você esqueceu o seu psp na biblioteca da escola, kissu kissu.
- Ah ta de brincadeira. Tem alguém lá agora?
- Claro, amor, tem eu Hahahahahahaha.
- Sai fora, vadia. Quero saber se tem alguém útil na escola.
- Mas é muito ignorante mesmo tsc tsc. Tá cansado de saber que as provas de recuperação são na parte da manhã hummm...
- Hoje ainda é terça. Amanhã deve estar aberto.
"É o único console que a minha mãe não pegou, preciso dele..." pensou Kazuki, com idéias em mente.
- Kazuki? - chamou a menina.
- Ja terminou, certo? Vou desligar.
- Ah Kazukiiiii, espera, estou muito entediada... Vem me ver aqui na pracinha...
- Tchau Lily. - e desligou.
- Puts não acredito que esqueci ele na biblioteca, tenho que ir pegá-lo logo, saí daquele lugar com tanto ódio que nem lembrei de verificar se tinha caído algo da mochila... - disse Kazuki, enviando uma mensagem para Zack, explicando o porque da demora.



Enquanto isso, em algum lugar da vazia cidade de Ikebukuro, uma garota corria para um beco escuro e tirava do bolso um relógio.
- Mas que droga, passou da hora do relatório.
Ela abriu a tampinha do relógio e dele subiu um holograma, cheio de opções e botões. Ela foi passando por cada uma delas, entrando em um menu e saindo em outro, até achar o que procurava.
- É isso! Vamos, atenda, N° 9.
Ouviu - se um clique vindo do relógio, e uma voz rouca de um rapaz saía de dentro do holograma
- Recite o código.
- 45B52.
- Eai, N° 3. Se perdeu na cidade de novo? - disse a voz do relógio.
- Como vai, vim dar meu relatório, Sr. Secretário.
- Vou te mostrar o secretário agora mesmo engraçadinha.
- Hehe. Vamos ao que interessa. Acho que encontrei alguma coisa hoje.
- Ohh não me diga! Isso é uma surpresa! Me conta aí vai.
- Ja está anotando? - perguntou a menina, com tom sarcástico.
- Nossa, que profissional, espere um minuto.
- ...
- Opa, não to achando sua ficha...
- Para de gracinha, N°9, eu quero dormir.
- Nham... Aqui está. Comece a narrar o seu dia, pra eu escrever no seu diário hehe - e a voz do relógio começou a rir.
- Ai que idiota que você é, credo.
- Tudo bem. Parei de graça. A partir de agora esta sendo registrado. Dê seu relatório, N°3.
- Certo. Hoje eu comecei as minhas buscas em 3 cidades distintas, colhendo as informaçoes com as mesmas características que me foram dadas. Ao pesquisar mais sobre a vida dos alvos, percebi que eles nao tinham muita ligaçao com o que eu estava querendo, e na Herança, nós tínhamos a informação de que o alvo estaria na cidade de Ikebukuro ou regiões próximas. E hoje encontrei uma escola muito peculiar, que em suas características apresentadas, muitos pontos estavam de acordo com algumas coisas escritas na Herança. Estudando melhor essa cidade, pude finalmente reduzir minha lista para três pessoas.
- Nossa, que resumão. E quais são os nomes? - perguntou a voz do holograma.
- Então. Conforme deve estar registrado, levando em conta a astúcia do Pai, ou ele deixaria alguém muito óbvio, ou então alguem muito dificil. Sem considerar os meio-termos, consegui nome das seguintes pessoas: Yamato Tarima, 17 anos, estuda no colégio central, e faz o ultimo ano. Daisuke Giulio, 18 anos, não tenho muitas informaçoes sobre esse. E por fim, um que está quase fora de questão, mas vale a pena conferir, Kazuki Meihiro, 17 anos, estuda no Colegio Estadual de Ikebukuro.
- Isso é tudo que você sabe sobre eles? - perguntou a voz no relógio.
- É sim, N°9.
- Hum... Bom trabalho, vou comunicar ao Mizuno Os seus resultados de hoje.
- Então. É sobre isso que eu queria falar também. Você poderia não falar ainda pro Mizuno sobre minhas atividades? Eu tenho, meio que um plano pra acabar com isso mais rapidamente...
- Como assim?
- Espera. Tem alguém aqui. - e a menina fechou o relógio, apagando toda a luz do beco onde ela se encontrava, pois percebeu que havia um garoto de jaqueta vermelha passando pela rua. Rapidamente percebeu quem era, e levou os dedos nos olhos, tirando algo parecido com uma lente de dentro deles, e correu a uma distância média de onde estava o garoto e o ficou observando de longe.
De repente o menino parou de andar e se abaixou para amarrar o sapato, deixando algo cair, logo percebeu, e pegou de volta. E nisso tudo a menina o observava de longe, até que ele virou uma esquina e desapareceu do campo de visão dela. Quando percebeu que não poderia mais seguir o garoto com os olhos, voltou pra dentro do beco e reabriu o relógio.
- Vish. Demorou ein. Tinha ido ao banheiro? HAUEIAUEHAUEI.
- Aff, Jin. Estou meio confusa.
- o que foi, pequena?
- Acho que vi o Kazuki Meihiro passando ali.



Depois de desligar o celular na cara da Lily, Kazuki teve uma idéia para "resgatar" seu video game que ele esqueceu na escola. Mas antes, voltou em casa para conferir se isso realmente havia acontecido, ou se era apenas enrolaçao da garota. Quando viu que o console realmente não estava lá, passou no quarto da mãe para ver como ela estava.
- Mãe...?
E não obteve resposta. " Deve estar dormindo" pensou, e saiu novamente, em direçao à casa do Zack.
Mas dentro do quarto, a mãe de Kazuki nao estava dormindo. Lágrimas corriam pelos olhos dela, e ela tinha nas mãos um porta retrato com uma foto de um homem alto, de cabelos escuros e lisos, e ela acariciava a foto, e dizia:
- Querido... Onde você está... Parou de dar noticias a 12 anos... Por favor volte pra casa... - e desatou a chorar inconsolavelmente.
Kazuki havia fechado a porta da sala, e começou a caminhar pela rua de forma distraída e desligada.
- Caramba... Tão bom quando é fim de ano e essa cidade fica vazia assim... Olha só, só tem meia duzia de carros na rua... Ahh tão bom!
E se lembrou de que havia prometido de jogar Digimon online com seus amigos virtuais naquela noite.
- Ih, nem vai rolar... Eles vão ficar se perguntando se eu desisti por medo. Novatos - disse Kazuki, sorrindo.
Nesse momento ele estava passando em frente à um beco, e percebeu uma luz se apagando la no fundo dele, mas achou que era um mendingo acendendo um cigarro, e continuou andando. Mais à frente, percebeu que seu tênis estava com o cadarço desamarrando, e se abaixou para amarrá-lo. Enquanto estava ajeitando o sapato, passou um carro preto muito brilhante, virando a esquina, e Kazuki pôde ver o seu reflexo na porta dianteira do mesmo. Enquanto o motorista esperava o sinal abrir para continuar sua viagem, Kazuki continuou olhando para o seu reflexo no carro, enquanto amarrava o sapato. Foi quando percebeu que estava sendo observado. E ficou muito intrigado quando reconheceu a menina que o perseguia todas as manhãs ao ele ir para a escola. Fez menção de olhar para trás, mas achou melhor não, e se levantou e virou a esquina, de modo que nem ele, nem ela podiam ver um ao outro.
Andando mais dois quarteirões e meio, Kazuki se deparou com uma casa de muro alto, com rosas vermelhas ao lado do portão de aço. Era a casa de seu amigo, Zack. Kazuki tocou a campainha, e ninguem atendeu.
"São 19:10, os pais dele ainda não  chegaram. Provavelmente ele deve estar com um fone no último volume ouvindo Metallica e mechendo naquelas latas velhas..." pensou ele.
- Zaaaaaaaaaaaaack! Cade você bitch.
Continuou sem resposta.
- Ah que seja, to entrando.
Ao abrir o portão, se deparou com um belo e enorme jardim, com um cheiro suave de dama-da-noite e outras flores. Entre o portão e a porta da sala, havia um caminho de pedras rústicas, iluminado por diversos pequenos postes de luz fluorescente. Kazuki olhava para aquilo e se lembrava do estranho sonho que teve mais cedo, ainda confuso de não entender nada.
- ZACK, MALDITO, VEM AQUI ME ATENDER!!! - gritou ele, já sem paciência.
Kazuki percebeu o quanto a familia de Zack era cuidadosa com a casa. Tudo estava em seu devido lugar, não havia uma folha de árvore no chão. Eles tinham um cachorro, mas até ele era educado, ficava solto mas não fazia bagunça no jardim, e nem defecava em lugar nenhum que nao fosse o seu "banheiro". Kazuki foi em direçao aos fundos da casa, onde sabia que a oficina do amigo ficava, e aos poucos pôde ouvir o barulho das maquinas dele. De repente, Kazuki ouve um som de passos mecanizados, e de um dos cantos do igualmente organizado quintal, surge um robôzinho pequeno e ainda incompleto, chegando perto dele.
- Mas que...? Era esse o projeto dele? - pensou Kazuki, se abaixando para observar mais de perto a mais nova criação de Zack. O protótipo não tinha pernas, elas foram substituídas por 4 rodinhas que permitiam que ele se movimentasse por todos os lados, livremente. Ele ainda apresentava dois braços, que pareciam ser só de enfeite, mas quando Kazuki levantou a mão esquerda, o pequeno ser de ferro levantou a mão direta e a jogou em direção da mão de Kazuki, fazendo um cumprimento de mãos.
- Bo-a No-i-te. Be-m Vi-ndo à ca-sa do-s Ka-o-ru. Co-mo vo-ce se cha-ma?
- Érr... - Kazuki não sabia se respondia ou se só observava. Ele só falava com robôs nos jogos dele.
- K-Ka-Kazuki... Me chamo Kazuki.
- Pro-cu-ra-ndo, pro-cu-ra-ndo, Ka-zu-ki Me-i-hi-ro, fi-lho de Ha-ru-mi Me-i-hi-ro e... Não há re-gi-s-tro-s de qu-em é o p-ai. Que-m é seu pa-i, Ka-zu-ki-ku-n?
Kazuki se levantou e deu um passo para trás. Ele não sabia responder aquilo, pois não gostava de tocar no assunto. Seu pai havia sumido quando ele tinha 6 anos de idade, após  sofrer um acidente que fez Kazuki perder a memória. Por isso ele não lembrava de absolutamente nada do que acontecera dos 6 anos para baixo, nem sequer o nome ou a aparência do seu pai. Só se lembrava que a partir daquele dia, era sua mãe que esteve ao lado dele por todo o tempo. Kazuki tinha vontade de alguma hora perguntar para ela o que havia realmente acontecido com ele, mas tinha medo de ela ficar com raiva ou triste por causa disso. Então ele guardava tudo para si, e descontava sua raiva por ter duvidas nos seus inimigos virtuais.
- Eu... Não tenho pai. - disse ele, com voz sumida.
- Nã-o te-m? Ma-s to-do-s te-mo-s qu-e te-r. So-mo-s fi-lho-s de um pa-i co-m um-a mã-e, in-con-di-ci-o-nal-me-nte.
- Desculpe, robô, eu realmente não sei quem é ele.
- Ro-bô? Que-m o se-nho-r cha-ma de ro-bô? Me-u no-me é H.I.-R.O. Na ve-rda-de te-nho qua-tro no-me-s, ma-s me-u cri-a-dor fe-z es-sa a-bre-vi-a-çao pa-ra fa-ci-li-ta-r. E à pro-pó-si-to. Nã-o se-i qua-l é es-se no-me gra-n-de.
- Hum. E onde está seu criador?
- Es-tá no ba-nho a-go-ra, ma-s o se-nho-r po-de es-pe-rar um po-u-co a-qui den-tro e to-ma-r u-ma chá.
- Uma chá? - Sorriu Kazuki, com aquele erro descarado de gramática. - pode deixar, Hiro-kun. Vou esperar ele aqui mesmo.
- O-bri-ga-do e vo-l-te se-m-pre.
Kazuki se sentou no sofá de espuma macia e encostou a cabeça no braço do sofá, olhando pro teto e esperando o Zack sair do banho. Já estava quase dormindo, quando ouviu a porta de um dos quartos da casa se abrindo, e sentiu um vapor quente sair de dentro dele, e o seu amigo saindo com uma toalha bege na cabeça, esfregando e secando os cabelos lisos e brancos, que havia acabado de lavar. O garoto ainda não havia percebido que Kazuki estava na sala, e começou a assobiar uma musica qualquer e foi em direção à cozinha para beber um pouco de leite. Ainda com a caixa na mão, Zack vai para o quarto, pega um controle remoto e vai em direção à sala.
- AHHHHHHHHHHHHHH SEU IDIOTA, O QUE ESTÁ FAZENDO AÍ?????! - gritou Zack, assustado ao perceber o amigo sentado no sofá.
- Tch, pensei que não iria sair mais daquele banheiro.
- Mas eu pensei que você não viria... Fiquei no banho até mais tarde enquanto o hiro cuidava de tudo.
- Pois é, esse Hiro. É interessante. Mas precisa de uns ajustes, sabe.
- Você viu, Kazuki-kun?! Ele é perfeito, não? Sabe até sobre a sua vida HAHAHAHAHA - Disse Zack, todo animado e sorridente.
- Primeiro: como sabe o nome da minha mãe? E segundo, por que me fez ele perguntar sobre coisas que eu não sei e não quero falar sobre? - perguntou Kazuki, levemente aborrecido.
- Eita. Calma, eu coloquei perguntas aleatórias. Não tenho culpa se ele te perguntou coisas que não queria falar. Malz aí.
- Hum. Mas nao me respondeu a primeira pergunta.
- Ahh, isso é facil. Sua mãe é popular, sabia?
- Hã?
- É sério hehe. - sorriu Zack.
- Como assim popular? - perguntou Kazuki.
- Cara, sua mãe é nova, e ela sai com as amigas, enquanto você fica trancado no quarto. Não é dificil saber, e eu meio que conheço uma das amigas dela... - e olhou para o teto, com olhar sonhador.
- Vish cara, ta apaixonado é - Kazuki começou a rir.
- Digamos que sim, mas pela filha dela.
- Hum. Qual é o nome dela?
- NÃO SEI HAUEIAIEHAUEIAHIEU. - E saiu da sala para colocar a toalha bege no varal. Kazuki se levantou e foi atras dele. Ao olhar para trás, viu que o projeto de robô vinha em sua direção.
- Ei, Zack, tenho uma proposta a fazer pra você - disse Kazuki.
- Hum... Diga - disse Zack, colocando uma munhequeira no pulso e 2 anéis nos dedos.
- Então. Eu esqueci meu PSP lá na escola. Vamos amanha comigo pra buscar?
- Que eu saiba as aulas acabaram... - disse Zack, que depois de colocar os anéis nos dedos, sentou se numa cadeira que achou na varanda. Kazuki permaneceu em pé, encostado na parede.
- Mas acho que a escola vai estar aberta, de qualquer jeito, estou te convidando para fazer uma incursão.
- Está falando de... Invadir?
- É, só pra eu nao ter que falar com a Lily. Ela com certeza vai estar me esperando no portão. Eu só quero ir na biblioteca pegar e pronto...
- Hum... Você ama essa Lily ein IUAHEUAIEUAHEUIAHEUI.
- Fala isso de novo que eu te quebro no meio, idiota.
- Eu tava brincando, lesera. Eai gostou do H.I.R.O.?
- Até que é legalzinho ele, mas tem que parar de chamar pessoas novas de "senhor", e usar pronome indefinido do jeito certo.
- Ahhhnm. O que é um pronome indefinido? - perguntou Zack, inocentemente.
- Ah ta de sacanagem? Nao acredito que você não sabe. - disse Kazuki, admirado.
- Malz aí amigão. Eu costumava dormir na aula de gramática...
- Ahh mano, como você quer programar um robô pra conversar com as pessoas se você nem sabe sua própria lingua?
- Pra isso que você ta aí, né? HEHEHE.
- Ars. Vamos ali, vou te ensinar tudo o que você precisa saber.
- Ta zuando, vai me dar aulas?
- Eu gostei do seu robô, Zack, já que estou sem videogame por um mes, quero melhorar ele pra você. Não ouse recusar minha oferta de ajuda, vagabundo.
- Ahhhhhhhh não. Na boa, nao estudo nem na escola...
- Somos dois. Mas o que eu aprendi de gramática foi nos jogos.
- Sério? Caramba.
- É isso aí. Que horas seus pais chegam?
- Umas 22:00.
- E você fica esse tempo todo sozinho?
- Só tenho meu H.I.R.O como companhia...
- Nossa, que forever alone - Kazuki começou a rir.
- Olha quem fala, Sr. Hikikomori.
- Pelo menos eu tenho amigos virtuais no mundo todo, que estao online a qualquer hora do dia.
- Mas você está sozinho de qualquer jeito...
- Não estou não. Minha mãe só sai de casa quando eu estou na rua.
- Mesmo assim, infurnado naquele quarto é como se estivesse sozinho, Kazuki-kun.
- Pelo menos tem o barulho das panelas na cozinha, e minha mãe cantando pelos corredores...
- Ahhh eu tenho o H.I.R.O, e ta bom demais.
- Vai deixar eu te dar aulas?
- Vamos fazer o seguinte, quando eu estiver inserindo informações no banco de dados dele, aí você revisa tudo o que eu fizer.
- E quando você não tiver programando ele?
- Ah, tem uns mangás ali. Se quiser ler, fique a vontade...
- Zack... - disse Kazuki, olhando para o chao, como que procurando alguma coisa.
- O que...?
- Érr... Você tem aquelas revistas...?
- Que revistas?
- Ahh vamos, você sabe.
- Vish. Isso ... Hahahahaha. Nao.
- Aff.
- Você sabe que eu não gosto dessas coisas, Kazuki-kun.
- Não é, gosta de que entao? - Kazuki começou a rir.
- Seu besta, você entendeu.
- É entendi. O que vai fazer agora?
- Vou ver TV.
- Aff. Você é o contrario de mim...
- Claro que sou, e ainda bem hehe.
- To pensando... Acho que vou para casa dormir.
- Ta pensando ou vai? - disse Zack, folheando uma revista de tecnologia.
- Eita, quer tanto assim que eu vá?
- Quero, você não sabe nada de física, não tem utilidade pra mim - disse Zack, fazendo voz de vilão.
- Ahh falou, Sr. ZERO. Vou indo, até amanha. Você vai lá comigo ne?
- Lá onde? - perguntou Zack, coçando a cabeça.
- Vish. Na escola, buscar meu psp.
- Ah. Acho que sim, não tenho que jogar digimon online mesmo IAUEHAUEIAHEUIA.
- Palhaço. Pelo menos o psp eu ainda tenho né. - disse Kazuki, sorrindo.
- Pois é. Até mais Kazuki-kun, vai pela luz da lua.
- Até mais Zack, fique no escuro.
E Kazuki saiu andando na rua em direção à sua casa.


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